Sento-me ao piano e começo a tocar. O meu pai diz: «Toca outra coisa, isso é tão triste.» A minha mãe diz: «Deixa-o tocar o que ele quiser, não impliques, já é crescido.»
A minha irmã a beber vinho branco e a falar sem qualquer pausa como se estivesse eufórica. O meu pai a repetir: «Filho, vê lá o que fazes.» A minha mãe silenciosa no jardim à sombra do guarda-sol por causa das manchas de pele, na cara e nas mãos. As dela são escuras, as do seu irmão, meu tio, são claras. A minha mulher satisfeita com tudo, feliz, sobretudo com o sol, que não é habitual estar assim tão forte em Março.
E depois chega a minha sobrinha, o meu filho, a mãe do meu filho e o seu marido para o retrato desta estranhamente amada família. E as dores que me apertam as costas crescem e eu penso na faca que me há-de cortar os pulsos, longa e fina, de dois gumes, como para fazer o sushi que a minha mulher adora.
Pedro Paixão – Amor Portátil
4 comentários:
É por essas e por outras que prefiro Sashimi
Eu é mais salada de frango que não vou muito à bola com comida crua...
lol
Não queiras actualizar isto que não é preciso!!!
Tele(m)patia.
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